17 abril 2009

Bahia um estado d´alma na Bienal do Livro


Para comemorar os 460 anos de fundação da cidade de Salvador, o jornalista e pesquisador Gutemberg Cruz lançou no dia 26 de março, o livro “Bahia, um estado d´alma”. O livro vai estar na 9a Bienal do Livro (17 a 26 de abril no Centro de Convenções da Bahia), além de estar à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 e Cinema Glauber Rocha) e Pérola Negra (Canela). Segundo o autor, a cidade guarda de forma mais intensa a variada escala de cheiros e sabores. Em cada esquina, um aroma diferenciado que sintetiza e expõe os altos e baixos da Bahia de São Salvador. A experiência olfativa em Salvador – terra de todos os cheiros – pode ter como ponto de partida o Pelourinho com seu aroma do azeite de dendê exalado de fumejante tachos das baianas de onde saem suculentos acarajés. Ou a água de cheiro da procissão de Iemanjá e a alfazema do afoxé Filhos de Gandhi ou da Lavagem do Bonfim.


Salvador tem um cheiro gótico, odor de profanação indefinida, de misturas memoriais. É um perfume doce, forte, suave, libidinoso. A cidade deixa escapar um cheiro de saudade da tarde que escurece e a brisa cresce. E o cheiro muda da Barra para Itapuã, de frutas exóticas e peixes saltitantes. Do Mercado Modelo o cheiro de caranguejo, da Baixa dos Sapateiros, o cheiro de limão e do Centro Histórico o cheiro do amor, de velas acesas para Nosso Senhor. Cheiro de orvalho, como gotas de música misturado ao cheiro de urina, cheiro de menina. Cheiro de terra molhada, folha amassada, verdinhas e atraentes. De espuma de uma rua, cheiros sutis de umbus suculentos, mangabas grudentas, abacaxis atraentes, jacas deliciosas e cajus refrescantes. Pode ser na Feira de São Joaquim, Sete Portas ou Mercado de Itapoã, roteiros de devoção.

COMENTARISTA - Para a professora Nilzete Alves, Gutemberg Cruz não assume a postura do especialista ao escrever Bahia, um estado d´alma, ao contrário, procura o ângulo do comentarista que vive o local. Louva quem bem merece, deixando o ruim de lado, como bem aconselha Gilberto Gil. Seu texto se lê fluentemente esvaziado de pretensões de um rigor científico de análise que, muitas vezes, nem se aplica a uma realidade fugidia como a “terra da felicidade”. Em seu arsenal de informações, com experiências que vivenciou profundamente, o humor e sutileza se articulou entre as letras de músicas onde as alternâncias entre repouso (classicismo) e movimento (barroco), claro e escuro convivem no mesmo espaço, com rigor (ou técnica) e emoção.

A Bahia dos becos escuros, com seus mistérios, sons e cheiros; a Bahia da costa clara, banhada por um mar amigo que inspira suas canções. O seu povo, plural na sua etnia e singular nas suas manifestações. Salvador é singular porque é plural. Emoções, sensações e imagens. A Bahia é plural na sua diversidade de religiões e singular na tolerância da coexistência das mesmas respeitando a opção dos indivíduos que as praticam. É muito comum na Bahia ser católico e adepto da umbanda ao mesmo tempo, independente de sua cor ou classe social. As próprias festas católicas têm também sua versão profana.

O sociólogo Gilberto Freire definiu Salvador como uma cidade talássica, isto é, uma cidade que ia desenvolvendo, em todos os sentidos e direções, o gosto e os hábitos das coisas do mar. Como diria o escritor João Ubaldo Ribeiro, festeira e barulhenta, a cidade entrega-se com facilidade ao visitante, mas quase nunca abre aos seus mistérios.

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