18 fevereiro 2009

Preconceito, o autoritarismo social (1)

O preconceito (pré-juízo) é uma forma de autoritarismo social de uma sociedade doente. Normalmente o preconceito é causado pela ignorância, isto é, o não conhecimento do outro que é diferente. O preconceito leva à discriminação, à marginalização e à violência. Estas atitudes vem acompanhadas por teorias justificativas. O racismo e o etnocentrismo defendem e praticam a superioridade de povos e raças. Trata-se de um conjunto de atitudes sem fundamento na experiência prática. São julgamentos dirigidos a pessoas que pertencem a grupos raciais, políticos, linguísticos, nacionais, religiosos, sociais, entre outros.

A civilização greco-romana rotulava de “bárbaros” todos os que estivessem fora dela, e seus herdeiros utilizam o termo “selvagem” com o mesmo sentido. E precisamente os “selvagens” manifestam características semelhantes. Os povos que sofreram o triste episódio do colonialismo foram saqueados, espoliados e muitas vezes extintos. Os civilizados europeus que se apossavam das riquezas e do trabalho desses povos indefesos justificavam seus atos pela “inegável inferioridade do homem de cor, sua natural indolência, e pela nobre missão de lhes transmitir os mais elevados valores do Ocidente”.

Os antropólogos chamam de etnocentrismo o conjunto de preconceitos e hostilidades sentidos por um grupo social ou elemento estranho – são “eles”. Nos EUA, a organização com laivos nazistas Ku Klux Klan tratou de manter vivo o ódio racial e estimulou todos os preconceitos. Na República da África do Sul, país de maioria negra dominada por uma minoria branca, o governo instituiu a singular política do Apartheid. Segundo elas, as comunidades branco e negra não deve misturar-ser, em hipótese alguma, e isso se justifica pelo desejo “louvável” de preservar a integridade das duas culturas.
Os preconceitos são adquiridos. Crianças, por exemplo, vão assimilando os preconceitos dos pais. A escola tem papel fundamental no sentido de reforçar ou neutralizar as idéias preconceituosas adquiridas em casa.
Quando o cantor e compositor Michael Jackson que teve a pele negra e ficou mulato em Thriller, clareou mais em Bad e apareceu completamente branco em Dangerous, o mal-estar que isso causou na mídia foi assustador. O cantor e compositor Arnaldo Antunes em seu artigo no Folha de S.Paulo (Riquezas são diferenças, 07/01/92) escreveu: “Brancos sempre puderam parecer mulatos, bronzear-se ao sol ou em lâmpadas específicas para esse fim, fazer permanente para endurecer os cabelos. Tudo isso visto com naturalidade e simpatia (...) Até mesmo aquela caricatura do Al Johnson era vista com graça. Agora, o negro Michael Jackson entregar seu corpo à transcendência da barreira racial desperta revolta, reações de protesto e aversão” (...).

“É que Michael Jackson é um Macunaíma ao avesso. Se o anti-herói de Mário de Andrade faz de si a parábola da gênese das diferenças raciais no espaço ficcional, Michael Jackson representa, em carne e osso, a abolição dessas fronteiras. Mas parece que, mais de cem anos depois, o Brasil ainda não está preparado para aceitar a Abolição”.

Os negros que estão condenando a mutação de Michael Jackson, insinuando ser ela fruto de inveja de uma suposta condição dos brancos, acabam na verdade chegando a um veredito semelhante ao do racismo branco que diz: `Como esse negro se atreve a usar a minha cor em sua pele?`. Michael Jackson continua cantando com o mesmo swing de quando tinha a pele preta, e dançando cada vez mais lindamente aquela dança que influenciou milhares de negros no mundo inteiro. Ele ostenta a pele clara como quem diz ´eu posso´. E canta: ´I´m not going to spend my life being a color´. E faz de seu corpo a prova de que a questão racial vai muito além da cor da pele. O corpo é para usar. O corpo é para ser usado. Michael Jackson está colocando seu corpo a serviço de um tempo em que a pessoa valha antes das raças, e o planeta antes das nações. Não se trata de extinguir as diferenças, mas de fundar radicalmente a possibilidade de trânsito entre elas. A miscigenação que se fez aqui (nesse país onde todos somos um pouco mulatos ou mamelucos), diacronicamente, durante séculos, faz-se sincronicamente nele. Michael Jackson é preto e é branco. Não fala em nome de uma raça ou casta, mas encarna em si a diferença. Não é mais americano porque é do mundo todo (...). O incômodo está justamente nesse exercício de liberdade. Ele não precisa explicar nada. As respostas estão em todas na sua cara. Ou naquelas caras tão diferente se transformando umas nas outras, no clip de Back or White”.

3 comentários:

kareи тнαíร мicнαєl Jαckรσи disse...

perfeita sua matéria!Adorei tudo o q vc escreveu sobre o Michael Jackson!mas esqueceu d citar q ele tem vitiligo ^^

D@N!3L jAcKsOn disse...

Perfeitooo!! Dá orgulho ver alguem citando bem o Michael Jackson! =D Parabens e obrigado!

jisele jackson disse...

Texto simplesmente perfeito!
Muito obrigada por ter citado Michael Jackson de forma positiva, Deus o abençoe por isso!
Realmente como disse a Karen, o senhor esqueceu de citar q Michael teve sua pele despigmentada por conta do Vitiligo q ele contraiu, mas nao tem importancia visto q o senhor abordou o assunto de um outro angulo porém sem sair da verdade!
Muito obrigada!
Parabéns!