O cineasta Steven Spielberg surpreendeu o mundo do entretenimento na última edição do Festival de Cannes (2008) com a notícia que seu próximo projeto não seria mais Lincoln, cinebiografia do presidente norte-americano Abraham Lincoln (1809-1865). Decidiu tirar do papel um projeto antigo: a adaptação para as telas de As Aventuras de Tintin, série de histórias em quadrinhos criada pelo artista belga Georges Remi, mais conhecido como Hergé. Spielberg estará na direção do primeiro filme de uma possível trinca de longas-metragens baseados na obra de Hergé e o cineasta neozelandês Peter Jackson (da premiada trilogia O Senhor dos Anéis) assinará a sequência.
Os dois não pretendem transpor as histórias de Tintim para a tela grande de maneira convencional. Pretendem aliar o formato live action (com a utilização de atores e locações de verdade) à animação em 3D. Os movimentos e expressões faciais do elenco serão primeiro filmados e, a partir deles, estão sendo criadas versões dos personagens em animação tridimensional. Segundo Jackson, já foi produzido pela empresa Weta Digital um teste em curta-metragem de 20 minutos, atestando a viabilidade do uso dessa tecnologia híbrida e inovadora. O roteiro de Tintin será assinado por Steven Moffat (do seriado Dr. Who). Para que aceitasse o convite de Spielberg, o escocês exigiu total liberdade de criação, sem interferência dos estúdios. O enredo tomará como base elementos presentes nos 23 comic books criados por Hergé entre 1929 e 1976.
A tentativa de Spielberg pode ajudar a melhorar a performance cinematográfica do personagem, que por enquanto não teve um desempenho à altura de seus álbuns. Tintin já estreou quatro longas-metragens, dois com atores (Le Mistére de la Toison d´Or, de 1961, e Tintin et les Oranges Bleuses, de 1964) e dois em desenho animado (O Templo do Sol, de 1969 e Tintin et le Lac aux Requins, de 1972). O primeiro filme com Tintin, Le crabe aux pinces d´or, de 1947, era com marionetes. O ator Jean-Pierre Talbol encarnou o personagem pela primeira vez no cinema, em 1961, no longa metragem Tintin e Le Mystère de La Toison d´Or. Os filmes de animação vieram depois. Em 1972 foi lançado Tintin et le Lac Aux Requins, desenho animado feito na Bélgica, e O Templo do Sol, longa metragem de aventuras franco-belga realizado pelos estudios Belvision em 1969.
Tintim também teve uma passagem pela televisão, em desenhos seriados que chegaram a ser exibidos no Brasil pela rede Bandeirante nos anos 70. Eram basicamente transcrições dos principais aventuras realizadas em álbuns como O Segredo do Licorne, O Tesouro de Rackam, o Terrível.
Steven Spielberg nunca escondeu ser um grande fã da série de quadrinhos de Hergé. Ele passou boa parte de sua carreira usando como inspiração as páginas de Hergé. Vide Caçadores da Arca Perdida, de 1981. Um ano depois, o diretor comprou os direitos para produzir os três filmes com o personagem. O primeiro roteiro foi adaptado por Melissa Mathison, a mesma de E.T., o Extraterrestre, de 1982. Jack Nicholson faria o papel de Haddock, mas o grande problema era encontrar um ator de 16 anos parecido com o personagem. Diante dessas e outras dificuldades, Spielberg abandonou o projeto e preferiu criar o seu próprio Tintin, que chamou de Indiana Jones.
“Folheando os seus álbuns, fiquei sempre impressionado perla ilustração detalhada. Em se tratando sobretudo de objetos exóticos, um etnólogo não pode deixar de se sensibilizar com a preocupação meticulosa de Hergé, e seu respeito pela documentação rigorosa”, escreveu o antropólogo Levi-Strauss.
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