17 outubro 2008

Música & Poesia

Dois Durões (lagoa) (Marina Lima)

E eu que achei
Que o mar ia subir
E o verão repartir
O ouro do pó
E sem dó conduzir
Dois durões numa expedição
Rumo aos locais e arsenais do coração
Mas nem sinal
Só ondas brandas ventos carnaval
Se a Bahia fosse só poesia e cor
Você não teria crescido
Nem eu percebido
Que é na Lagoa que mora o amor
E eu que achei
Que o mar ia subir
E fazer uma gente teimosa se redimir.



Os Peixes (Marianne Moore)
vade-
ando negro jade.
Das conchas azul-corvo um marisco
só ajeita os montes de cisco;
no que vai se abrindo e fechando
é que
nem ferido leque.
Os crustáceos que incrustam o flanco
da onda ali não encontram canto,
porque as setas submersas do
sol,
vidro em fibras sol-
vidas, passam por dentro das gretas
com farolete ligeireza —
iluminando de vez em
vez
o oceano turquês
de corpos. A correnteza crava
na quina férrea da fraga
uma cunha de ferro; e estrelas,
grãos
de arroz róseos, mães-
d'água tintas, siris que nem lírios
verdes e fungos submarinos
vão deslizando uns sobre os outros.
As
marcas externas
de mau-trato estão todas presentes
neste edifício resistente —
todo resquício material
de a-
cidente — ausência
de cornija, machadadas, queima e
sulcos de dinamite — teima em
ressaltar; já não é o que era
cova.
Repetida prova
demonstrou que ele pode viver
do que não pode reviver
seu viço. O mar nele envelhece.

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