Pintor, escultor, desenhista, cineasta – numa palavra, multidisciplinar – Chico Liberato é pioneiro do desenho animado na Bahia. O artista plástico baiano Chico Liberato sempre foi um apaixonado pelo cinema de animação. Ao se enveredar pelo sertão de Monte Santo, terra mística de beatos e rezadeiras, ele produziu o primeiro longa-metragem animado do Nordeste: Boi Aruá, com trilha sonora do maestro Ernest Widmer e do cantor Elomar. O filme lançado em 1983, sensação da Jornada de Cinema da Bahia, projetou Chico Liberato, conquistou Menção Honrosa no Fest Rio daquele ano e prêmios no Festival da Juventude em Moscou e da Unesco (por estimular a juventude para a cultura sertaneja).
O filme já divertiu platéias, sobretudo crianças e adolescentes do Brasil e da Europa, com a história do vaqueiro cuja obsessão é apanhar o boi misterioso, o touro mandingueiro dos relatos de cordel. Plasticidade, dramaticidade, riso e emoção acompanham o frenético galopar do fazendeiro que parte no encalço da fera, na verdade uma introjeção de seus próprios fantasmas. Boi Aruá é também a história de uma busca que só termina quando o homem domina uma fera, que se revela um manso cordeiro, mas que serve de catarse para que o brutamontes que a perseguia recupere a paz – metáfora telúrica – o campo, antes calcinado pela seca, volta a florir.
Com o longa-metragem, que demonstra o amor do autor pelas coisas do campo (o mandacaru, os bichos e a gente do sertão), Chico Liberato fez o que se poderia chamar de “poética das vidas secas”, para usar a imagem da família de retirantes imortalizada pelo escritor Graciliano Ramos. O cotidiano de luta e a alegria dos catingueiros perpassa todo o filme: o ferrar do gado, a reza das beatas, as brincadeiras dos garotos do sertão, a feira, o trabalho no eito, a casa de farinha, nada disso escapou aos olhos sensíveis do artista. A toada sertaneja de Elomar soa como um contraponto do desafio de caçar e aprisionar o boi encantado do cordel.
Boi Aruá não é o único filme de animação de Liberato. Sua animada filmografia inclui também curtas como Ementário, Antistrof (1972) interpretação gráfica da obra musical do argentino Rufo Herrera; O que os Olhos Vêem (1973), Prêmios Instituto Nacional de Cinema (INC), Caipora (1974) e Pedro Piedra (1975), Prêmio Alexandre Robatto Filho, também do INC. Em seguida realiza os desenhos Eram-se Opostos, sobre a permanente luta entre as dualidades - com raízes nordestinas sobre o percurso dos personagens "Um" e "Outro". (1977) e Muçagambira (1982). Representante da geração 60, nas artes plásticas da Bahia, Chico Liberato agitou o cenário das artes plásticas no estado dos anos 70 para cá e foi responsável pelo surgimento de novos talentos. Como diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), fundou as oficinas de artes plásticas e deu chances a muitas vocações sufocadas e desconhecidas, com a exposição Cadastro.
Liberato acredita que o homem tem de criar seu universo e seu próprio acervo e desfrutar dele. Se as pessoas não buscam na arte uma fonte de alimento para abastecer-se de energia e bons fluidos, elas se perdem em curto circuitos, por incidentes banais no trânsito ou por qualquer motivo, e desenvolvem uma preocupação e raiva que as impedem de sentir prazer em viver. Na música, na pintura ou na poesia, por exemplo, o homem pode encontrar a tranqüilidade que precisa para enfrentar com mais sabedoria os seus problemas.
A ancestralidade e a ecologia são temas presentes na arte de Liberato que procura, na técnica, alcançar o domínio do índio na utilização de elementos primitivos em seus trabalhos, fazendo o caminho inverso do academicismo e aproximando-se mais e mais da natureza, usando madeira, iniciando-se nos traçados de cipós, e abusando das cores fortes.
O crítico Frederico Morais comentando sua última mostra, em 2005, comemorativa dos 40 anos de vida profissional dedicados a arte e a cultura afirmou: “Ouso afirmar que a pintura atual de Francisco Liberato tem o caráter de uma obra-manifesto. Sem abrir mão de uma linguagem internacional e perfeitamente contemporânea, ela reflete questões geopolíticas. Mas não se trata mais de denúncia social e menos ainda do panfleto político – mas de crítica cultural. É um manifesto em defesa de uma cultura brasileira em sua relação dinâmica com a cultura local, afro-baiana e latino-americana. Em seus quadros, Liberato recria continuamente os signos `antropomórficos, arquetípicos e iconográficos´ da cultura brasileira em sua dimensão étnica e universal, mas sem abrir mão de sua imaginação criadora e intelectual e, naturalmente, de sua subjetividade e espiritualidade”.
O filme já divertiu platéias, sobretudo crianças e adolescentes do Brasil e da Europa, com a história do vaqueiro cuja obsessão é apanhar o boi misterioso, o touro mandingueiro dos relatos de cordel. Plasticidade, dramaticidade, riso e emoção acompanham o frenético galopar do fazendeiro que parte no encalço da fera, na verdade uma introjeção de seus próprios fantasmas. Boi Aruá é também a história de uma busca que só termina quando o homem domina uma fera, que se revela um manso cordeiro, mas que serve de catarse para que o brutamontes que a perseguia recupere a paz – metáfora telúrica – o campo, antes calcinado pela seca, volta a florir.
Com o longa-metragem, que demonstra o amor do autor pelas coisas do campo (o mandacaru, os bichos e a gente do sertão), Chico Liberato fez o que se poderia chamar de “poética das vidas secas”, para usar a imagem da família de retirantes imortalizada pelo escritor Graciliano Ramos. O cotidiano de luta e a alegria dos catingueiros perpassa todo o filme: o ferrar do gado, a reza das beatas, as brincadeiras dos garotos do sertão, a feira, o trabalho no eito, a casa de farinha, nada disso escapou aos olhos sensíveis do artista. A toada sertaneja de Elomar soa como um contraponto do desafio de caçar e aprisionar o boi encantado do cordel.
Boi Aruá não é o único filme de animação de Liberato. Sua animada filmografia inclui também curtas como Ementário, Antistrof (1972) interpretação gráfica da obra musical do argentino Rufo Herrera; O que os Olhos Vêem (1973), Prêmios Instituto Nacional de Cinema (INC), Caipora (1974) e Pedro Piedra (1975), Prêmio Alexandre Robatto Filho, também do INC. Em seguida realiza os desenhos Eram-se Opostos, sobre a permanente luta entre as dualidades - com raízes nordestinas sobre o percurso dos personagens "Um" e "Outro". (1977) e Muçagambira (1982). Representante da geração 60, nas artes plásticas da Bahia, Chico Liberato agitou o cenário das artes plásticas no estado dos anos 70 para cá e foi responsável pelo surgimento de novos talentos. Como diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), fundou as oficinas de artes plásticas e deu chances a muitas vocações sufocadas e desconhecidas, com a exposição Cadastro.
Liberato acredita que o homem tem de criar seu universo e seu próprio acervo e desfrutar dele. Se as pessoas não buscam na arte uma fonte de alimento para abastecer-se de energia e bons fluidos, elas se perdem em curto circuitos, por incidentes banais no trânsito ou por qualquer motivo, e desenvolvem uma preocupação e raiva que as impedem de sentir prazer em viver. Na música, na pintura ou na poesia, por exemplo, o homem pode encontrar a tranqüilidade que precisa para enfrentar com mais sabedoria os seus problemas.
A ancestralidade e a ecologia são temas presentes na arte de Liberato que procura, na técnica, alcançar o domínio do índio na utilização de elementos primitivos em seus trabalhos, fazendo o caminho inverso do academicismo e aproximando-se mais e mais da natureza, usando madeira, iniciando-se nos traçados de cipós, e abusando das cores fortes.
O crítico Frederico Morais comentando sua última mostra, em 2005, comemorativa dos 40 anos de vida profissional dedicados a arte e a cultura afirmou: “Ouso afirmar que a pintura atual de Francisco Liberato tem o caráter de uma obra-manifesto. Sem abrir mão de uma linguagem internacional e perfeitamente contemporânea, ela reflete questões geopolíticas. Mas não se trata mais de denúncia social e menos ainda do panfleto político – mas de crítica cultural. É um manifesto em defesa de uma cultura brasileira em sua relação dinâmica com a cultura local, afro-baiana e latino-americana. Em seus quadros, Liberato recria continuamente os signos `antropomórficos, arquetípicos e iconográficos´ da cultura brasileira em sua dimensão étnica e universal, mas sem abrir mão de sua imaginação criadora e intelectual e, naturalmente, de sua subjetividade e espiritualidade”.
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