26 agosto 2008

O novo livro de Sérgio Mattos

* Por Lamartine Lima

A literatura mundial conhece os textos em prosa fescenina desde há muito tempo. Geralmente têm a forma de confidência ou diário íntimo ou confissão. São famosos aqueles de Pietro Aretino e de Teresa Filósofa, que causaram delícias eróticas na imaginação dos europeus da Renascença e do Iluminismo, como aconteceu, entre outros, e de forma diversa, com os brasileiros e os livros da escritora paulista Cassandra Rios ou do pernambucano-carioca Nélson Rodrigues, nos meados do século passado, aquele último alcançando o século XXI.

Ainda este ano de 2008, o escritor baiano Oleone Coelho Fontes, lançou as Confissões de um Proxeneta, em que trata ficcionalmente de uma personagem real, o “cabaretier” Petrônio Fachinetti Carvalhal. Seus autores aproveitam o enlevo a que conduzem os leitores através de suas narrativas, para discutir sutilmente muitas questões transcendentais, principalmente sobre ética, religião e política, particularmente acerca de culpa, pecado e punição. Assim acontece, agora, com o novo livro do profissional de longo e bem sucedido tirocínio como premiado jornalista e docente, fundador e presidente do Instituto Baiano do Livro e também fundador e ex-presidente da Academia de Letras e Artes do Salvador, Prof. Dr. Sérgio Mattos, aos 60 anos de idade, família bem constituída e, com mais esse, 34 volumes publicados.

Intitulado AS CONFISSÔES SEXUAIS DE MARIA FRANCISCA, ele trata, na terceira pessoa, de u’a mulher, de família das Lavras Diamantinas, nascida na capital baiana, sob o signo de Touro, no dia 15 de maio de 1976, vítima, na pré-adolescência, de agressão sexual, por mais de um adulto, que se tornou uma atraente recepcionista e depois empresária de promoções e vendas, de olhos cor de mel, longos e lisos cabelos castanhos caídos pelo dorso do seu corpo moreno, de altura mediana, esbelto e formas harmônicas, em que se destacam os seios pequenos, arredondados e firmes, mais as ancas e as coxas, tipo de cigana. De formação educacional secundária, ela se acha mãe perfeita de uma filha, Ana Lúcia, cujo hímen mandou romper ainda recém-nascida, e um filho, Carlos, ambos adolescentes e já mantendo relações sexuais; frutos, a moça, de sua relação sexual com o sogro, um usineiro das Alagoas, e o rapaz, de sua união com o herdeiro daquele proprietário e industrial, e que a abandonou. Ela vive uma compulsão nicotínica e pansexual, e tem a fixação de ter um terceiro filho, cujo pai quer que seja o publicitário Felipe Castelo, ex-guerrilheiro que foi preso político anistiado e bem indenizado.

Esta obra de Sérgio Mattos retrata o encontro, durante três dias de um fim de semana prolongado, de Maria Francisca com um homem de 75 anos, careca, de barba grisalha cheia, alto, magro, ágil física e mentalmente, de voz grave e com sotaque que denunciou sua origem estrangeira, o qual fora professor universitário, perdera a mulher e os filhos em um desastre de automóvel, tornara-se missionário peregrino em romarias desde o Santuário do Bom Jesus da Lapa, na Bahia, até aquele da Terra da Mãe de Deus, no Horto do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, no Ceará, manuseando as contas de um terço grande e escuro, vestido com o hábito marrom dos frades franciscanos, sob o nome de Frei Vicente. Ela procurou-o para se confessar, depois de haver-se consultado com psicólogos, psiquiatras, psicanalistas e praticantes de religiões afro-brasileiras.

Todas as 118 páginas do livro remetem ao relato da intensa e desregrada atividade da prática de relações sexuais de todas as maneiras usadas por Maria Francisca, com homem e com mulher, formando um casal, ou um par, ou com mais outro parceiro ou parceira, ou com um grupo, ou mesmo um animalzinho, e os problemas psicológicos e espirituais da compreensão sobre os fatos expostos ao religioso, mais as conseqüentes discussões. Entremeia a narração com observações a respeito da consciência; dos Mandamentos, dos pecados capitais e do perdão; da cidade de Bom Jesus da Lapa, a Gruta-Santuário e o seu milhão de romeiros; do rio São Francisco, seus problemas e intervenções; das práticas litúrgicas sincretizadas dos orixás; de perfumes e receitas afrodisíacos, e uma de assado de carneiro; de operações cirúrgicas plásticas genitais, inclusive implantação de próteses; da arte da discreta fricção erotizante em público; dos movimentos estudantis e guerrilhas, mais sua repressão na época dos governos militares da Revolução de 1964; dos variados tipos e métodos de tortura; da Anistia; da Constituição de 1988; do tempo presente, que é apenas um ponto na linha entre o passado e o futuro; do remorso; das diversas linhas de tratamento pela Psicologia; da Fé; e, finalmente, da promessa de um novo livro que romanceará outros casos de Maria Francisca. Insere-se, portanto, essas confissões de u’a mulher que se acredita livre, na antiga tradição dos livros licenciosos e, paradoxalmente, de cunho filosófico-moralista. Nos dias atuais, como no passado, é um dos segredos para o seu sucesso, esperado junto ao grande público.


* Lamartine de Andrade Lima é médico e ensaísta, membro-fundador e ex-presidente da Academia de Letras e Artes do Salvador, e sócio-fundador do Grupo de Ação Cultural da Bahia

O lançamento do livro do professor e jornalista Sérgio Mattos, As Confissões Sexuais de Maria Francisca, será amanhã, quarta-feira, dia 27, a partir das 18h no restaurante Grande Sertão (Costa Azul).

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