18 junho 2008

Cardápio da comida desperdiçada

Em época de crise, alimentos que normalmente são jogados fora se revelam fonte de nutrientes e uma forma eficaz de economizar. Vale a pena começar a aproveitar folhas, ossos, cascas de ovo e verduras para fazer receitas gostosas e de alto valor nutritivo. Através de programas de incentivo e descobertas de donas de casa, está surgindo um cardápio brasileiro que põe um fim no desperdício de comida. Ricos em vitaminas, proteínas e fibras, alimentos como folha de bredo, de batata, de chuchu, sementes de abóbora e melancia podem ser consumidas das mais variadas formas. Uma variedade de folhas pode ser refogada com carne, em forma de sopas, ou transformadas em sucos, de preferência com limão, um agente de vitamina C. O suco de couve com limão e adoçado com rapadura é um superalimento.

As crianças podem saborear o fubá de milho, o fubá de arroz, ricos em vitaminas do complexo B e sais minerais. O mais recomendado para mingau, sopa, vitamina, bolo, pão e fruta é o farelo de trigo, que pode ser comprado com mais facilidade. É bom prestar atenção nas cascas. As vitaminas das frutas e verduras ficam encostadas na casca, que em geral vão para o lixo. Aproveitem em receitas como farofas e geléias a casca da banana, da abóbora, ou frita para salgadinho. Ricos em fibras são o bagaço da laranja. Todas estas dicas são frutos de estudos das nutricionistas baianas que repassaram suas pesquisas para o programa de combate à fome.

Aparas e sobras podem ser usadas em quase tudo. Folhas de beterraba viram suflê. Se faltar o tira-gosto, sementes torradas de abóbora cumprem o papel direitinho. A refeição de hoje sugere a de amanhã, investindo-se o mínimo em ingredientes. Mas a economia é apenas uma das vantagens do aproveitamento integral dos alimentos. O ganho em nutrientes pode ser surpreendente. O caldo resultante do cozimento de carnes, legumes e verduras é rico em vitaminas e sais minerais que, normalmente, só o ralo da pia chega a conhecer.

Os nutricionistas avisam, entretanto, que abandonar a polpa e só comer as cascas, ou beber o caldo e jogar fora a carne é cair em um novo engano. Não se pode dizer que cascas e outras aparas são sempre mais nutritivas que as partes utilizadas comumente. Elas podem ser mais ricas em determinado princípio nutritivo, mas pobres em outro. O que se deve pensar é no aproveitamento integral dos alimentos, alertam.

É preciso estar alerta também para os efeitos das altas temperaturas no cozimento. O excesso de calor nas grelhas e chapas, por exemplo, apesar de provocarem a fundição da gordura - útil para quem tenta emagrecer - destrói as proteínas. No forno, também pode haver grandes perdas. A carne assada em temperaturas superiores a 200 graus centígrados chega a encolher mais de 30%. Panelas de alumínio e antiaderentes liberam substâncias tóxicas que ficam impregnadas nos alimentos. Dê preferência às panelas de barro, pedra, ferro, vidro e porcelana refratária.

Como aproveitar o alimento inteiro: Para refogados, feijão e sopas podem ser utilizados os talos de couve, espinafre e taioba, ricos em fibras; Da abóbora nada se perde: casca, folhas, cabo, polpa e caroço, que torrado com sal é excelente aperitivo, bom para rins e bexiga. Idem para a soja; Folhas de rabanete, beterraba e nabo são mais concentradas em carboidratos, vitaminas A e C, fósforo e cálcio que suas raízes. Picadas, são ótimas em saladas e conserva; Pó de folha de mandioca contém muita vitamina A e ferro. Seque as folhas à sombra e bata-as no liquidificador, guardando-as em vidro fechado. Uma pitada na comida garante energia.

Para aproveitar bem o suco do limão, bata a casca com um socador antes de cortá-lo; Paçocas e mingaus feitos à base de caroços torrados e moídos de melancia, girassol e abóbora são deliciosos, nutritivos e têm sabor de amendoim; As verduras mantêm mais valor nutritivo se cozidas o menor tempo possível; O caroço de abacate e casca de ovo moídos ficam excelentes em farofas. A casca do ovo é rica em cálcio, enquanto o caroço do abacate ralado pode ser usado como condimento suave; Para evitar que a metade não utilizada do abacate se deteriore, deixe-a com o caroço.

Não jogue fora tomates moles: 15 minutos em água gelada e voltam a ficar rijos; A folha da abóbora, ideal para refogados, bolinhos e sopas, é 20 vezes mais nutritiva que a própria abóbora; Casca de banana ouro à milanesa tem gosto igual ao da berinjela; O cozimento no vapor é sempre melhor para os vegetais; De modo geral, verduras e frutas não devem ficar guardadas por mais de sete dias na geladeira. Mas, mesmo perdendo as vitaminas, elas ainda possuem as fibras.

O preconceito é o principal empecilho à população do aproveitamento total dos alimentos. Consideradas recursos de última mão, as partes não-convencionais dos alimentos são tabus a serem superados pelos programas de incentivo, que atendem principalmente às famílias de baixa renda. O maior problema era convencer as mães de que a sobra não é ração. O aproveitamento total dos alimentos é um mundo desconhecido que precisa ser explorado. O uso de talos, cascas folhas e sementes também tem caráter ecológico. O uso dessas partes dos alimentos diminuiria em muito o lixo nas cidades, além de resolver em parte o problema nutricional de muitas famílias. “Existe um excesso de desperdício que caracteriza bem a nossa sociedade, que valoriza muito o descartável. Precisamos acabar com a falta de informação e o preconceito, responsável por tanto desperdício”, afirmou uma nutricionista.

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