Agora Eu Quero A Verdade (Sérgio Britto)
Eu sei que governar faz mal pros seus princípios
Dizem que a carne é fraca e que o poder corrompe
Eu sei que governar é o que sustenta o vício
Dizem que a carne é fraca e homem é lobo do homem
Eu sei, eu sei, eu sei que você já sabe
Agora eu quero a verdade
Eu sei, eu sei, eu sei que você já sabe
Agora eu quero a verdade
Conheça o novo presidente, igual ao velho presidente
Conheça o novo dirigente, igual ao velho dirigente
O velho igual
Igual ao novo, igual
Igual ao velho, igual
Igual ao moço, igual, igual
À esquerda a porta do banheiro, a serviço do dinheiro
Meus heróis estão no poder
meus inimigos não são quem eu pensava ser
Meus heróis estão no poder
Basta estar vivo pra poder viver
Eu sei que governar faz mal pros seus princípios
O que não mata engorda e o poder corrompe
Eu sei que governar é o que sustenta o vício
O que não mata engorda e homem é lobo do homem
Eu sei, eu sei, eu sei que você já sabe
Agora eu quero a verdade
Eu sei, eu sei, eu sei que você já sabe
Agora eu quero a verdade
Conheça o novo burocrata, igual ao velho burocrata
Conheça o novo tecnocrata, igual ao velho tecnocrata
O reto igual
Igual ao torto, igual
Igual ao limpo, igual
Igual ao porco, igual, igual
À esquerda a porta do banheiro, você conhece pelo cheiro
O velho igual,
Igual ao novo, igual
Igual ao velho, igual
Igual ao moço, igual, igual
O reto igual
Igual ao torto, igual
Igual ao limpo, igual
Igual ao porco, igual,igual.
Poema do lavrador de palavras aos políticos (Pedro Barroso)
Não me perguntem coisas daquelas que eu não creia
não me perguntem coisas daquelas que não sei
remeto para os senhores as decisões do mundo
tais como governar, fazer decretos lei
no meio da tempestade no meio das sapiências
se poeta nasci, poeta morrerei
nem homem de gravata nem homem de ciências
apenas de mim próprio, e pouco, serei rei
das decisões do mundo lerei o que entender
que dentro de mim mesmo às vezes nasce um rio
e é esse desafio que nunca hei-de esquecer
e é essa a diferença que faz o meu feitio
mas digam por favor de onde nasce o sol
que eu basta-me o calor - para lá me voltarei
e saibam já agora que se eu lavrar a terra
me bastará que chova que o resto eu o farei
e digam por favor se o céu inda nos cobre
e bastará o azul
que em ave me tornei
mantenham com cuidado as árvores e estradas
pr'a gente poder ver, p'ra gente circular
que eu basta-me saúde e o sonho tão distante
e a boca perturbante que tu me sabes dar
e a festa de viver e o gozo e a paisagem
desta curva do Tejo, soprando a brisa leve
e na tranquilidade assim desta viagem
parar-se o tempo aqui, eterno, fresco e breve
que eu voo por toda a parte mas noutro horizonte
e vivo as coisas simples e rio-me da ambição
e ao fim de tanto ver, escolherei um monte
de onde assistirei, sorrindo, ao vosso enfarte
da ânsia de possuir, da ânsia de mostrar,
da ânsia da importância, da ânsia de mandar
e digam por favor de onde nasce o sol
que eu basta-me o calor - para lá me voltarei
e saibam já agora que se eu lavrar a terra
me bastará que chova que o resto eu o farei
e digam por favor se o céu inda nos cobre
e bastará o azul
que em ave me tornei.
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