29 fevereiro 2008

Páginas de sensação (2)

Cartas pornográficas de d. Pedro I, Os amores secretos de Pio IX, A mulher e o padre, Os prazeres do vício, O amor da baronesa e A divorciada são alguns títulos que exploravam personalidades políticas e religiosas, as orgias, o adultério ou as elegantes rodas da prostituição. Depois que os editores lusitanos já haviam exibido em seus catálogos coleções como a Biblioteca Reservada, Biblioteca Picante, Biblioteca Noites de Amor, Contos Salgados (para gabinete particular), permeadas de imagens ‘artisticamente ilustradas’, além de pseudônimos famosos iguais aos de ‘Rabelais’ e ‘Arsênio de Chatenay’, nossos homens de letras, incentivados pelo sucesso comercial, desses livros, passaram a produzir suas próprias histórias de teor malicioso e pornográfico. No Brasil (...), a voga e a popularidade da escola literária do naturalismo foram decisivas para essa produção nascente”.

“Se os homens estavam livres para gozar seus devaneios junto aos livros dedicados ao seu gênero, as mulheres, além da vigilância familiar, tinham de enfrentar os alertas das teses e das falas médicas que atentavam para os sérios problemas da busca feminina pelo prazer. Entre eles, o principal efeito dessas leituras: a ação isolada da masturbação, também chamada ‘ditorismo’ ou ‘onanismo feminino’.”. Os médicos enumeravam os terríveis resultados sofridos pelo corpo como seios moles, hálito forte, gengivas e lábios descorados, perda de umidade nos olhos, sardas, espinhas, diminuição do tecido muscular entre outros.

A grande diversidade de “livros para homens” em circulação no Oitocentos, era composta de obras que dialogavam entre si, difamavam as regras morais em voga e ironizavam o contexto social, político e religioso da época. Mas, para a satisfação dos leitores, valorizavam, acima de qualquer coisa, o ato sexual e a permanente busca de satisfação através dos encontros entre homens e mulheres. O naturalismo no Brasil contou com um mercado editorial em plena expansão. Entre os mais vendidos do naturalismo brasileiro estão A Carne (1888) do filólogo Júlio Ribeiro, O Aborto (1893) de Figueiredo Pimentel, e A Mulata (1896) de Carlos Malheiro Dias.

Adolfo Caminha fez sucesso com O Bom-Crioulo (1895), história de um marinheiro de origem escrava, homossexual, que, sob a influência do meio, obedeceu aos “instintos torpes” de seu organismo para assassinar o amante. “A crença de que os ‘romances só para homens’ teriam sobre a ‘frágil personalidade’ da mulher influência perniciosa fortaleceu-se ainda mais diante do temor de um dos principais efeitos do livro pornográfico: o incentivo à masturbação. Numa época em que os médicos e juristas apontavam para os perigos da busca do prazer feminino fora da esfera do casamento, os textos obscenos, interessados em instigar a imaginação criativa de cada leitor em proveito da sua própria satisfação sexual, constituíram um verdadeiro flagelo a ser combatido.


Essas obras licenciosas operavam de diferentes maneiras sobre a libido daqueles que percorriam suas páginas, como também discorriam sobre uma variedade de temas filosóficos, políticos e sociais, que, lidos sob os códigos culturais da época, davam pluralidade e complexidade aos seus enredos. Para Alessandra El Far (Páginas de Sensação), “o leitor, que sabia diferenciar um enredo picante de outro apenas sugestivo, levaria para casa aquele que melhor correspondesse às suas expectativas, para alegria dos livreiros, ou então para a preocupação dos que acreditavam nos efeitos nocivos da leitura”.

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