Walter Franco, um dos maiores pesquisadores de nossa música popular, é responsável por experiências totalmente nova (vide “A Cabeça”, no FIC e “Muito Tudo” no Abertura, que causou polêmicas até hoje). Utilizando bastante o silencio, sua voz, um violão simples e um celo, ele dará continuidade aos seus trabalhos. “Por isso eu canto aqui, agora. Feito gente, feito fase como quem vai dormir e depois partir para outra” (Reportagem inicialmente publicada no jornal Tribuna da Bahia de 11 de março de 1976. Gutemberg Cruz).
CICLO DO NÃO
Seu disco de estréia tinha uma capa branca, uma mosca num canto e um não escrito na contracapa. Os que haviam absorvido as vibrações negativas emanadas do Maracanãzinho nem sequer abriram o disco – na verdade, ele deve ser o LP menos vendido da fonografia brasileira. Segundo a gravadora só vendeu quinhentos exemplares. Quem ouviu, descobriu uma música nova, difícil às vezes, provocante sempre, resumindo e atualizando as lições de João Gilberto. Franco se refere a esse período como “o ciclo do não”.
No meio das evoluções iogues e pacíficas de Walter Franco houve o Festival de Abertura. Cara limpa, olhar calmo, violão e “Muito Tudo”, singela, quase um sopro. Mas na platéia, de novo os urros e vaias concordes. “Aí eu já acho que foi uma coisa. Ninguém estava vaiando Muito Tudo. Eles estavam vaiando a mim, ou melhor, estavam vaiando uma imagem que eles tinham feito de mim. É aquela coisa de cada pessoa ter um curta metragenzinho dentro da cabeça, projetando naquela hora”.
E, ao retornar ao palco para bisar seu número, premiado com o terceiro lugar, a ininterrupta gritaria da enfurecida platéia que superlotou o constrangedoramente solene Teatro Municipal de São Paulo levou Franco a encaixar, na melodia de sua composição, o abominável refrão farofeiro, desclassificado nas eliminatórias. Como o clamor não cessasse, ele se sentou no chão e, tendo como parceiros o maestro Júlio Medaglia e o flautista Tony Osanah, dedicou-se a um animado e absurdo jogo de crepe. Não conseguiu cantar, mas levou seu prêmio.
Com sua fala lenta, suave, quase tímida, Walter Franco afirmou a Veja (setembro de 1975): “As coisas mais simples são as mais profundas – e vice-versa. Uma delas, uma das poucas certezas que tenho, é a de que os homens se dividem, desde tempos não registrados pela História, em grupos e tribos. E existe uma, a tribo dos que caminham à frente da manada, dos que amam, dos que têm fé neles mesmos e em suas pequenas, infinitas descobertas. Essa tribo sempre foi necessária – e odiada. É a minha. Diminuta, composta de gente que pretende a harmonia, o belo, e que se nutre de amplos espaços, que os outros só ocuparão muito tempo depois”.
O maestro Júlio Medaglia diz que “num país carente de música instrumental, Franco é quixote como o suíço-baiano Walter Smetak ou Hermeto Paschoal. É o não-músico mais musical do país. Numa terra de rouxinóis como esta, estou mais interessado na música impopular brasileira, nos cantadores do interior da Bahia. E em Walter Franco. Um maldito que espalha sua filosofia através da música, mesmo que ninguém o siga”.
Walter Franco é filho do falecido deputado socialista Cid Franco, “um político-poeta ou um poeta político”, como amorosamente define o filho, acostumado desde menino a ver em sua casa os escritores Mário e Oswald de Andrade e o poeta Manuel Bandeira. E os ídolos de Franco, quem são? “John Lennon, o vanguardista-erudito, o americano John Cage e João Gilberto – a santíssima trindade dos joões”.
CICLO DO NÃO
Seu disco de estréia tinha uma capa branca, uma mosca num canto e um não escrito na contracapa. Os que haviam absorvido as vibrações negativas emanadas do Maracanãzinho nem sequer abriram o disco – na verdade, ele deve ser o LP menos vendido da fonografia brasileira. Segundo a gravadora só vendeu quinhentos exemplares. Quem ouviu, descobriu uma música nova, difícil às vezes, provocante sempre, resumindo e atualizando as lições de João Gilberto. Franco se refere a esse período como “o ciclo do não”.
No meio das evoluções iogues e pacíficas de Walter Franco houve o Festival de Abertura. Cara limpa, olhar calmo, violão e “Muito Tudo”, singela, quase um sopro. Mas na platéia, de novo os urros e vaias concordes. “Aí eu já acho que foi uma coisa. Ninguém estava vaiando Muito Tudo. Eles estavam vaiando a mim, ou melhor, estavam vaiando uma imagem que eles tinham feito de mim. É aquela coisa de cada pessoa ter um curta metragenzinho dentro da cabeça, projetando naquela hora”.
E, ao retornar ao palco para bisar seu número, premiado com o terceiro lugar, a ininterrupta gritaria da enfurecida platéia que superlotou o constrangedoramente solene Teatro Municipal de São Paulo levou Franco a encaixar, na melodia de sua composição, o abominável refrão farofeiro, desclassificado nas eliminatórias. Como o clamor não cessasse, ele se sentou no chão e, tendo como parceiros o maestro Júlio Medaglia e o flautista Tony Osanah, dedicou-se a um animado e absurdo jogo de crepe. Não conseguiu cantar, mas levou seu prêmio.
Com sua fala lenta, suave, quase tímida, Walter Franco afirmou a Veja (setembro de 1975): “As coisas mais simples são as mais profundas – e vice-versa. Uma delas, uma das poucas certezas que tenho, é a de que os homens se dividem, desde tempos não registrados pela História, em grupos e tribos. E existe uma, a tribo dos que caminham à frente da manada, dos que amam, dos que têm fé neles mesmos e em suas pequenas, infinitas descobertas. Essa tribo sempre foi necessária – e odiada. É a minha. Diminuta, composta de gente que pretende a harmonia, o belo, e que se nutre de amplos espaços, que os outros só ocuparão muito tempo depois”.
O maestro Júlio Medaglia diz que “num país carente de música instrumental, Franco é quixote como o suíço-baiano Walter Smetak ou Hermeto Paschoal. É o não-músico mais musical do país. Numa terra de rouxinóis como esta, estou mais interessado na música impopular brasileira, nos cantadores do interior da Bahia. E em Walter Franco. Um maldito que espalha sua filosofia através da música, mesmo que ninguém o siga”.
Walter Franco é filho do falecido deputado socialista Cid Franco, “um político-poeta ou um poeta político”, como amorosamente define o filho, acostumado desde menino a ver em sua casa os escritores Mário e Oswald de Andrade e o poeta Manuel Bandeira. E os ídolos de Franco, quem são? “John Lennon, o vanguardista-erudito, o americano John Cage e João Gilberto – a santíssima trindade dos joões”.
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