20 novembro 2019

Diferentes estilos dos quadrinhos brasileiros (02)


Dono de um trabalho rico tanto visualmente quanto por temáticas e abordagens, o cartunista Laerte Coutinho faz das histórias em quadrinhos um espaço de inquietação constante. Valores, linguagens, preconceitos e o próprio trabalho são colocados em questão nas quatro linhas que delimitam os quadrinhos. É celebrado por quadrinistas e jornalistas pelo experimentalismo e pela originalidade da sua produção. Ao longo dos seus mais de 30 anos de carreira, Laerte editou ou participou das revistas Circo, Chiclete com Banana, Piratas e outras. Criou personagens já bastante notórios como Os Piratas do Tietê, Fagundes (o irrecuperável puxa-saco), os habitantes do Condomínio (o Síndico, o Zelador), o Homem-Catraca (além das definições), Hugo Baracchinni (moderno) e muitos outros. Nesses personagens notam-se as principais habilidades de Laerte com a arte sequencial: seu traço leve e reconhecível, a utilização de temas e linguagens cotidianos através de uma grafia próxima da fonética, a presença de questões filosóficas-existenciais de forma suave, única e desconcertante, o humor sutil e mordaz.




Com um traço original, que tanto se adapta ao clima sombrio das histórias de terror, quanto à luminosidade épica das histórias de ficção & fantasia, o mineiro Mozart Couto tornou-se um dos nomes mais conhecidos de nossos quadrinhos. Um verdadeiro maestro de uma sinfonia de cores, luzes e sombras. Produziu para diversas editoras do eixo Rio-São Paulo recebendo, em 1986, o Prêmio Angelo Agostini, da Associação de Quadrinhistas e Cartunistas de São Paulo, como melhor desenhista. Dono de um traço inconfundível de realismo impressionante, em 1988 começou a exportar seus trabalhos para a Europa, onde foram publicados álbuns de histórias em quadrinhos e tiras de jornais. Em 1993, entrou no mercado norte-americano colaborando em revistas das editoras Marvel Comics, DC Comics, Acclaim Comics, Dark Horse e Image Comics, desenhando conhecidos personagens como Mulher Maravilha, Thor, Hulk, Elektra, Turok, Glory, Gamera, e outros.




Julio Shimamoto é uma lenda dos quadrinhos brasileiros. Ele estreou como desenhista de quadrinhos em 1959, na Editora Continental/Outubro. Entre 1961 e 1964, foi um dos líderes do movimento pela lei de nacionalização dos quadrinhos. Após o golpe militar de 64, foi fichado como comunista e subversivo, tendo que migrar para a publicidade. Sua grande volta aos quadrinhos se deu em 1978 e, a partir de então, não parou mais. Produziu para as editoras, Vecchi, Rio Gráfica, Grafipar, Press e Opera Graphica, além de colaborar com várias revistas independentes, como Made in Quadrinhos e Mystérion. Os álbuns Sombras, Musashi I e II, Madame Satã, Volúpia e Claustrofobia estão aí para provar a qualidade de sua arte. Com mais de cinco décadas de atuação, conquistou os principais prêmios da área – como HQMix, Ângelo Agostini e FIQ. Sua obra, caracterizada por constante experimentação gráfica, transita pelos mais diversos gêneros, do terror ao erótico.




O quadrinhista Flavio Colin (1930 – 2002) é um dos nomes mais cultuados da história da nona arte no Brasil. Desenhista carioca, criado no sul do país, Flavio Colin iniciou sua carreira de quadrinhista ainda bem jovem, nos anos 50. Nos anos 60, marcaria definitivamente sua carreira com o gibi.  O Vigilante Rodoviário. Para os estúdios de Maurício de Souza e o grupo Folha, produziu Vizunga, um dos primeiros personagens de quadrinhos realmente com background ecológico. Entre os anos 70 e 80, produziu ininterruptamente, colaborando para as publicações das editoras Grafipar e D-Arte, entre outras. Prolífico até o fim de sua vida, Colin ficou conhecido pela nova geração de leitores brasileiros, ao estrelar publicações especiais como: O Boi das Aspas de Ouro, Estórias Gerais e Fawcett. Ele é simplesmente o maior mestre da nona arte no Brasil, ainda na ativa. Possui um traço único, diferente, estilizado. Já desenhou de tudo um pouco, passando por tiras, HQ’s de terror, eróticas e até álbuns com obras históricas. Em fevereiro de 2001, ganhou o troféu Angelo Agostini de melhor desenhista de 2000, com Fawcett.




O chargista é conhecido por seu humor anárquico e urbano. Sob essa característica Angeli desenvolveu uma série de personagens como a famosa Rê Bordosa, uma junkie dos anos 80, Wood & Sotck, dois hippies que fumaram até os neurônios, o anarquista Meia Oito e seu parceiro gay enrustido Nanico, Luke e Tantra, duas adolescentes com os hormônios em fúria, a ninfomaníaca Mara Tara e muitos outros personagens. Desde os anos 80, Angeli vêm desenvolvendo uma galeria de personagens famosos por seu humor anárquico e urbano; entre eles se destacam o esquerdista anacrônico Meia Oito e Nanico, o seu parceiro homossexual enrustido (mas não muito); Rê Bordosa, conhecida como a junkie mais "porralouca" dos anos 1980; Luke e Tantra, as adolescentes que só pensam em perder a virgindade; Wood & Stock, dois velhos hippies que deixaram seus neurônios na década de 1960; 


os Skrotinhos, a versão underground dos Sobrinhos do Capitão; as Skrotinhas, a versão "xoxotinha" dos Skrotinhos; Mara Tara, a ninfomaníaca mais pervertida dos quadrinhos; Rhalah Rikota, o guru espiritual comedor de discípulas; Edi Campana, um voyeur e fetichista de plantão à procura do melhor ângulo feminino; o jornalista Benevides Paixão, correspondente de um jornal brasileiro no Paraguai e o único a ter conseguido entrevistar Rê Bordosa; Ritchi Pareide, o roqueiro do Leblão; Rampal, o paranormal; o machão machista Bibelô; o egocêntrico Walter Ego (também conhecido como "o mais Walter dos Walters"); Osgarmo, o sujeitinho vapt-vupt; Rigapov, o imbecil do Apocalipse; Hippo-Glós, o hipocondríaco (inspirado em Cacá Rosset); Vudu; Los Três Amigos e Bob Cuspe, o anárquico punk que cuspiu nas piores criaturas de nossas gerações. Ele próprio também se tornou um personagem, estrelando de início as tiras "Angeli em crise". Outra versão caricata sua é o personagem Angel Villa de Los Três Amigos.


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